Evolução territorial de São Paulo e o impacto no solo
- spemrisco
- 17 de out. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de nov. de 2022
Para compreender os problemas que cercam o estado de São Paulo é preciso, primeiro, conhecer um pouco de sua história, pois é por meio de um aglomerado de acontecimentos que a terra paulistana se tornou tão importante e, ao mesmo tempo, tão arriscada.
Do café aos trilhos
Com 468 anos, a capital paulista ficou conhecida pelos brasileiros e pelo mundo como o estado mais populoso do Brasil. De acordo com o IBGE, a concentração da população brasileira nessa região chega a 21,9% do total.
E, apesar de quase meio milênio de história, esse crescimento teve seu início apenas há dois séculos, por volta dos anos 1800, com o comércio de café sendo estabelecido e resultando em grandes avanços comerciais para o estado.
Fora da cidade de São Paulo, as raízes do café paulistano estavam, especialmente, nas regiões de Campinas e Ribeirão Preto. No entanto, foi a capital que se tornou o maior centro econômico, principalmente por conta da construção das primeiras estradas de ferro do estado, em 1867. Com isso, o transporte de grãos se tornou mais rápido e barato.
Logo, a rota que passava pela cidade de São Paulo se tornou obrigatória, já que era a partir de lá que o transporte poderia descer a serra, chegar ao litoral e fazer conexão com os distritos da província.
A terra das oportunidades
Com o café se tornando a principal economia do estado, e com a abolição da escravatura cada vez mais perto, a procura por mão de obra para trabalhar nas lavouras se tornou essencial.
Os estrangeiros foram o principal foco, sendo incentivados a se mudarem para a capital e, às vezes, até com o alojamento e passagens de navios sendo pagas pelo império brasileiro ou pelos donos de terras. Este foi um dos cenários mais importantes para o crescimento desenfreado da cidade, que resultaria na mais populosa do país.
De acordo com o Atlas temático do Observatório das Migrações em São Paulo, entre 1885 e 1927, estima-se que entraram por volta de 2,5 milhão de estrangeiros na região. Entre as principais nacionalidades, estavam: italianos, portugueses, espanhóis e japoneses.
Dados divulgados pelo Museu Casa de Portinari, entre 1886 e 1902, a população de Ribeirão Preto passou de 10.420 para 52.929 habitantes, sendo 33.199 estrangeiros e, desses, 27.765 italianos.
Mas a oportunidade também não passou despercebida pelos brasileiros, que logo enxergaram São Paulo como uma terra de oportunidades. E, já na metade do século XX, a migração de áreas rurais para urbanas começou a ganhar força, principalmente com a construção de Brasília. De acordo com informações do IBGE, a partir do final da década de 50, os migrantes do Norte e Nordeste buscaram melhores condições de vida nas grandes cidades do Sudeste.
Além disso, como ressaltado pela economista Maria Ribeiro, o crescimento da metrópole paulista também foi resultado dos avanços comerciais e da indústria. Após meados de 1920, setores econômicos tomaram a frente do café e mantiveram a liderança em São Paulo.
Com tudo isso, a expansão de terrenos habitados em São Paulo também cresceu e o mercado imobiliário se tornou cada vez mais caro. A solução para os novos moradores foi habitar regiões mais afastadas do centro da cidade e, muitas vezes, em locais precários e com pouco ou nenhum monitoramento de segurança da prefeitura.
O impacto no solo com as novas mudanças
Os aglomerados subnormais, termo utilizado pelo IBGE para identificar as “favelas”, se tornaram as moradias que se estabeleceram entre os grupos mais pobres da cidade. Junto com os cortiços e com loteamentos clandestinos, essas habitações superaram a produção de lugares construídos pelo poder público e empresas imobiliárias.
Com a precariedade da segurança, essa população ficou sujeita às alterações do solo devido às residências de baixo padrão construtivo, sem o devido preparo e acompanhamento das autoridades legais. Com isso, conforme o índice populacional aumentava, junto com a expectativa de vida, a interação humana e a modificação do solo se tornaram cada vez mais arriscadas.
Em sua maioria, as habitações foram construídas em encostas de colinas, locais que são mais suscetíveis a deslizamentos de terra. Enquanto as primeiras famílias se estabeleceram na parte de baixo dos terrenos, o espaço que sobrou se tornou cada vez mais inclinado.
De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, o que acontece desde aquela época é que as pessoas realizam escavações incorretas, sem escoamento de água adequado e não consideram as condições geológicas do local. Com isso, a vegetação e o solo são afetados e os movimentos de terra se tornam menos raros.
Outro problema é o risco de inundações e alagamentos em toda a cidade. As ruas, que antes eram de terra, se transformaram em pavimentos e isso, junto com os erros de projetos de drenagem, a superprodução de lixo e o descarte incorreto, transformou o escoamento de água em um problema.
Com as chuvas intensas no período do verão, espaços inteiros ficam submersos pela água. Além disso, os danos resultam até em mortes. De acordo com dados das defesas civis municipais, a Confederação Nacional de Municípios - CNM estima que cerca de 457 pessoas perderam a vida pelo excesso de chuva, apenas nos primeiros cinco meses do ano de 2022.
¹Resenha de LUNA, Francisco Vidal; KLEIN, Herbert S.. História Econômica e Social do Estado de São Paulo 1850-1950 . São Paulo: Imprensa Oficial, 2019. 528p.
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