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Sem saída: famílias ficam encurraladas em meio às fortes chuvas de verão

  • Foto do escritor: spemrisco
    spemrisco
  • 26 de out. de 2022
  • 14 min de leitura

Atualizado: 18 de nov. de 2022

Águas chegaram a dois metros de altura e levaram os móveis dos moradores para o meio da rua.


As chuvas de verão, que acontecem entre os meses de janeiro a março, transmitem um sentimento de alívio e sono tranquilo para as pessoas, mas para outras pode ser o começo de um desastre. Assim como na comunidade Caboré, essa é a realidade dos moradores do Jardim São Benedito, localizado no extremo leste de São Paulo.


Na noite de 11 de março de 2022, por volta das 2h da manhã, o barulho dos trovões e o vento que soprava dava indícios de que algo preocupante estava por vir. A assistente bancária Jacqueline dos Santos, 38, se manteve acordada, pois sabia que, se o excesso de chuva alagasse a avenida próxima a sua residência, precisaria acordar sua mãe e seu sobrinho para sair às pressas.


“As pessoas costumam dizer que adoram dormir com o barulhinho da chuva, nós não temos esse privilégio, barulho de chuva significa que temos que acordar todo mundo e ficar alerta”, conta Jacqueline.

Escombros da casa de Jacqueline | Imagem por SP em Risco

Quando acontecem as fortes chuvas, o mais natural seria que a água fizesse seu curso pelas galerias fluviais que cortam a comunidade, porém, nessa noite ela transpassou a superfície da avenida e começou a encher as casas que se encontravam em um nível mais baixo. A forte pressão e o volume da água conseguiram cobrir as casas até o teto, e chegou a estourar a parede de uma delas.


A avenida citada é a Ragueb Chofhi, uma das principais vias de trânsito da Zona Leste, que liga os bairros de São Mateus a Cidade Tiradentes. A enxurrada daquela noite atingiu o quarto de Jacqueline, e a forte pressão da água fez uma das paredes de sua casa ceder. A moradora conta que tudo aconteceu em menos de 10 minutos e, quando percebeu, ela e sua família já estavam correndo para fora de casa buscando proteção. “Levei a minha mãe para casa do meu irmão e depois o meu sobrinho. E falei pra eles que só iria voltar ao meu quarto para buscar uma presilha, foi então que escutei o estrondo e saímos correndo”, relembra.


Córrego do Rio Aricanduva | Imagem por SP em Risco

No entanto, o pior ainda estava para acontecer. A enchente não passou a vir apenas da avenida, mas também do córrego Aricanduva, que está na parte de trás das casas. O rio transbordou com toda a sujeira e descarte ilegal de lixo das regiões vizinhas. Com a água da avenida central e do rio, e as moradias construídas lado a lado, os moradores que estavam dormindo quase ficaram sem saída.


Para Jacqueline, olhar em volta e ver aquela enxurrada de lama vindo com tudo, trazendo parede, cama, guarda-roupa e tudo que estava pelo caminho, foi algo devastador e inimaginável.


“Aquilo me desesperou. Estávamos encurralados por conta desse encontro de águas”, relembra.

Depois de todo o susto e de um longo tempo até a água baixar, veio o momento de entender o tamanho dos estragos. Segundo ela, o quintal parecia ter virado uma área de guerra ou de uma explosão. Eles passaram o sábado tentando limpar e jogar as coisas que não prestavam fora, mas enquanto isso, a chuva passou novamente por cima do muro quebrado e sujou a moradia.


“A gente conseguiu limpar tudo de fato, apenas uma semana depois'', completa Jacqueline.


Drama partilhado


Casos como o de Jacqueline têm sido alertados há décadas, assim como as consequências das mudanças climáticas. A importância de políticas de adaptação e auxílio à população, que reside em uma das 475 áreas de risco na capital paulista, também estão na discussão.


A maior das consequências ambientais, é o aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, como fortes chuvas ou secas, que podem gerar impactos desastrosos para a população que cada vez mais tem perdido seus pertences, casas e até mesmo, familiares.


Segundo um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), com base no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do Ministério do Desenvolvimento Regional (S2ID/MDR), ocorreram mais de 50 mil desastres naturais no Brasil, a maioria deles de origem climática. Entre 2013 e 2022, esses eventos impactaram cerca de 340 milhões de pessoas no mundo.


O drama vivido por Jacqueline e sua família é partilhado com a vizinha Leonice Aparecida, 47, que mora em frente a avenida por onde passam os veículos e também as chuvas que atingem literalmente em cheio sua casa durante as tempestades de verão.

Marca d'agua e lama | Imagem por SP em Risco

Sua irmã, que morava no andar inferior de sua casa, teve os cômodos invadidos pela água, que veio da avenida, e chegou a quase dois metros de altura. Todos os móveis foram perdidos, e a lama está até hoje marcada nas paredes que um dia abrigaram a família.


O pai das irmãs havia investido todo o dinheiro que tinha na residência, realizando o sonho de ter a casa própria. Mas com o passar do tempo, isso mudou completamente.


“Quando a gente veio morar nesse bairro era bem tranquilo, era um local novo então meu pai fez todo esse investimento pensando que seria em algo bom. Mas, com o passar dos anos, a gente começou a sofrer com as enchentes”, relata Leonice.

A necessidade de se proteger fizeram a família tomar providências; aumentar o nível do piso da casa e colocar uma mureta em frente ao portão para tentar barrar a força da água.


calçada com construção para evitar a entrada de água nas casas.
Imagem por SP em Risco

“Quando chove, a gente sobe todos os móveis e colocamos madeiras que temos no portão, os blocos, porta velha, tudo que a gente tem pra poder bloquear a passagem de água”, explica.

Para Jacqueline, a sequência de fatos envolvendo as enchentes e alagamentos fizeram com que os moradores aprendessem a lidar com as cheias do rio, em que a água invade as casas, leva os móveis, as roupas e o sorriso de quem tanto batalhou para ter um lar.


“Em questão de segundos o seu quarto tá limpinho, arrumadinho e depois tudo vai parar no portão'', afirma a moradora.

Crescimento da população e invasões


Nos últimos dez anos, houve um aumento no número de grandes municípios no Brasil. Em um censo realizado no ano de 2010, somente 38 municípios tinham população superior a 500 mil habitantes, e apenas 17 deles possuíam mais de 1 milhão de moradores. Em 2021, o número de cidades com mais de 500 mil habitantes subiu para 49.


Juntas, elas representam 31,9% da população brasileira, com 68 milhões de pessoas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a população brasileira chegou a 213,3 milhões de habitantes em 1º de julho de 2022.


Com 12,4 milhões de residentes, o município de São Paulo é o mais populoso do país, seguido por Rio de Janeiro com 6,8 milhões e Brasília que tem 3,1 milhões. Esses números de fato influenciam na superlotação das cidades e com o movimento de construção de moradias em zonas periféricas como aconteceu no Jardim São Benedito.


Em meio a esse crescimento desenfreado da população, surgem as ocupações, que podem ser definidas como o ato de invadir uma área para construir uma moradia sem autorização. Parte das pessoas tem esse tipo de atitude pela necessidade em ter uma moradia que seja considerada segura, enquanto outros, constroem moradias nessas ocupações para conseguir dinheiro.


Segundo Leonice, desde a última enchente que aconteceu em março de 2022, a Defesa Civil Municipal e a Prefeitura da Cidade de São Paulo não investigou o motivo das enchentes e porque as invasões continuam acontecendo. “As autoridades não investigam, não punem quem está fazendo essas invasões. Quem faz esse tipo de coisa não são pessoas que estão precisando de moradia, estão fazendo isso pra investir, pra poder alugar, fazer meio de comércio, e nesses casos a gente precisa de um apoio”, declarou insatisfeita.


As invasões às quais Leonice se refere são de vizinhos que chegaram no bairro e simplesmente fizeram construções ilegais, no local em que se passava a galeria por onde deveria escorrer a água das chuvas. Cimento, entulho, paredes e lixo, é o que se encontra atualmente na galeria citada, com isso, sem o fluxo natural, a água encontra outros caminhos para fazer seu curso - a casa dos moradores que moram de frente para o problema.


Para ela, as invasões próximas a sua casa são a principal fonte do problema, pois todo o encanamento de sua residência foi afetado, ficando 15 dias parado sem seguir o fluxo normal. Desse modo, com a passagem de água da galeria tampada, tudo começou a subir.


"Eu acho que o primeiro passo é abrir essas galerias porque não tem vazão da água, então a água ela vai querer passagem e não tem, e aí por isso que ela está invadindo as nossas casas,” comenta.

No caso de Jacqueline, o que mais a deixa preocupada é o fato de os órgãos competentes não terem feito nada para melhorias, e um novo período de chuvas se aproxima. “A minha mãe morre de medo dessas chuvas de madrugada, porque a gente não tem visão de nada do que está acontecendo na parte de cima da avenida”, lamenta.



“A gente já fez vários protocolos quando teve a última enchente, pra eles poderem investigar e ver o que pode ser feito. A última enchente foi em março e a gente já tá em setembro e nada foi feito, nada investigado. A gente está desassistido de todas as formas aqui, aí depois quando ocorrem mortes, eles falam que é fatalidade, mas não é fatalidade, ninguém está olhando para nós menos favorecidos”, desabafa Leonice, ao mostrar as manchas de lama nas paredes da casa da irmã.


As ações da Prefeitura de São Paulo na Zona Leste


Ao ser procurada pelo SP em Risco, a Prefeitura de São Paulo, por meio das Secretarias Municipais de Habitação e de Assistência e Desenvolvimento Social - SMADS, informou que os municípios da comunidade São Benedito já estão inseridos na fila para atendimento habitacional.


De 1° de janeiro até 19 de outubro de 2022, a equipe do Serviço Especializado de Abordagem Especial - SEAS, realizou 3.677 abordagens no território do Iguatemi e arredores, sendo que destes, 2.701 passaram por escuta e orientação especializada. Além disso, 603 pessoas foram encaminhadas para o serviço de acolhimento, 288 foram providencias relativas à documentações, 45 crianças e adolescentes foram encaminhados para os Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes - SAICA, e 1.246 pessoas foram direcionadas para outros serviços da rede.


Em relação aos pontos de alagamento da região, a Secretária Municipal das Subprefeituras, por meio das Subprefeituras São Mateus, relatou que realiza ações periódicas para auxiliar a comunidade São Benedito, como a limpeza das margens do córrego Aricanduva - para dar maior vasão a água nas cheias -, e está concluindo uma passarela metálica, que já está em uso pelos moradores na travessia de São Mateus a Itaquera.


A Prefeitura de São Paulo, juntamente com outros órgãos, afirma realizar diversas ações para auxiliar e amparar os moradores da região. Alguns dos pontos compartilhados para esta reportagem foram os seguintes:


Ocorrências

  • De janeiro a outubro de 2022, a Coordenação de Pronto Atendimento Social - CPAS, da SMADS, foi acionada pela Defesa Civil do Município em 23 oportunidades para prestar atendimento em ocorrências relativas a incêndios, riscos de desabamentos e enchentes na região de São Mateus;

  • Ao todo, 543 famílias, que totalizam 2.310 pessoas, foram atendidas durantes essas ocorrências, sendo distribuídos mais de 5.200 itens de primeira necessidade (colchões, cobertores, cestas básicas, kits de limpeza e higiene).

Atendimento habitacional

  • A Secretaria Municipal de Habitação - SEHAB e Companhia Metropolitana de Habitação - COHAB informam que, somente na Zona Leste da cidade, já fooi assinada a ordem de início da construção de 1.568 unidades habitacionais do Programa "Pode Entrar". As obras em três terrenos serão destinadas para famílias que recebem auxílio aluguel da SEHAB, priorizando as famílias da região leste, e para demanda aberta da COHAB.

Manutenção da área

  • Até o mês de setembro, a SMSUB realizou a limpeza de 264.275 m² de áreas de margens de córregos limpos na região, retirando 9.433 toneladas de detritos de dentro dos córregos. Assim como, limpou 331.604 m² de área de piscinão e retirou 64.372 toneladas de detritos de dentro dos piscinões da subprefeitura. Também foi feita a limpeza de 2.859 bocas de lobo e 569 poços de visitas.

Mapeamento

  • A Secretaria Municipal de Segurança Urbana - SMSU informa que a Coordenação Municipal de Defesa Civil - COMDEC realizou o mapeamento de quatro áreas de risco geológico e, atualmente, desenvolve o mapeamento de quatro áreas de risco hidrológico na região da Avenida Ragueb Chohfi, altura do número 7.200, próximo ao Rio Aricanduva, em São Mateus.


Os heróis da vida real


Para lidar com situações como essas de enchentes e deslizamentos é necessário uma preparação diferenciada, esse é o caso do Corpo de Bombeiros. São eles que trabalham com resgate de vidas e, tratando disso, a regra é uma só: toda a vida humana importa, independentemente do chamado ou dos envolvidos.

Imagem por SP em Risco

Para o Capitão André Elias, porta-voz do Corpo de Bombeiros de São Paulo, o preparo feito para enfrentar deslizamentos de terra e enchentes é algo que acontece desde a chegada do bombeiro à corporação. “Nós temos cursos específicos para isso, inclusive um que se chama BREC, em vários níveis (o BREC é a Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas). Nós temos uma equipe catalogada pela Organização das Nações Unidas”, revela o Capitão.


Além disso, é feito um trabalho de acompanhamento psicológico dos bombeiros que, para o Capitão, é fundamental em qualquer tipo de ocorrência. “O nível de estresse a qual o militar é submetido é elevado. Por isso, são cursos e procedimentos difíceis, temos capacitações que duram 45 dias, em que você está sob estresse o tempo inteiro, e isso prepara para que eles fiquem aptos a conseguir atender uma ocorrência, sabendo controlar esse estresse, esse medo, essa fobia, e os anseios".

Reprodução: PMESP

Segundo ele, em até 48 horas após uma tragédia, as equipes podem chegar em qualquer lugar do mundo, com toda a estrutura necessária, prestando o apoio que a situação demanda. Desse modo, antes das temporadas de chuvas, eles passam por treinamentos técnicos e simulações que são anualmente renovados para esses tipos de ocorrência. André Elias ainda fala sobre a postura do bombeiro diante de situações como essas, que envolve buscas, desaparecidos e alguns casos mais extremos a morte dos envolvidos.


“Quando você participa de grandes ocorrências, você conhece diferentes histórias, sonhos e vidas. Nós somos treinados para não nos envolvermos, mas ao entrar em um incidente você faz o possível e o impossível para ajudar. Até que chega o momento em que temos que recolher o equipamento, fazer a manutenção e ficar pronto para a próxima, pois sabemos que outras pessoas vão precisar da nossa ajuda.”

Jacqueline foi uma entre tantas milhares de pessoas salvas por uma dessas equipes de resgate. Ela lembra que foi resgatada com sua mãe e o sobrinho às 3 horas da manhã. “Saímos daqui de bote. As outras famílias, que moravam nas casas mais altas, conseguiram se escorar e sair pela lateral dos muros'', relata.


Já durante as buscas por desaparecidos com deslizamento de terra ou inundações por conta da água, o Capitão André Elias explica que as buscas persistem enquanto houver certeza de que não tem mais nenhuma vítima desaparecida, não importa se vai durar horas, dias ou meses.


“Enquanto nós tivermos a notícia de que existe uma vítima desaparecida, iremos continuar atuando”, acrescenta.

Confira na integra a entrevista com o Capitão André Elias e o trabalho do Corpo de Bombeiros:


Contenção e monitoramento das áreas afetadas


Em outros casos, como a contenção das áreas de risco, é feita pela Defesa Civil em conjunto com a Secretaria Municipal de Segurança Urbana da Prefeitura da Cidade de São Paulo, pelas subprefeituras da capital e em conjunto com a Divisão de Prevenção.


O Corpo de Bombeiros também se envolve com as instituições acima obtendo informações de localização das áreas, para que a divisão dos trabalhos seja feita em conjunto e de maneira efetiva. “Essas áreas de risco são uma função da Defesa Civil, nós temos acesso a isso porque é interessante para o corpo de bombeiros saber onde são as áreas de risco, e ter um treinamento prévio nesses locais”, explica André Elias.


Mas segundo relato das moradoras da Comunidade São Benedito, o trabalho feito pela Defesa Civil não é algo contínuo e demanda tempo para acontecer. E a cada ano, no período de chuvas, só crescem os casos de feridos e desabrigados nas áreas de risco do estado.


O Plano Municipal de Redução de Risco da cidade de São Paulo (PMRR), foi previsto há oito anos pelo Plano Diretor da capital e está com atraso em sua implementação desde 2019, que previa também o início de obras para ajudar a população. De acordo com a prefeitura de São Paulo, 177 mil famílias residem nas 475 regiões sujeitas a enchentes, deslizamentos de encostas em morros e solapamentos em margens de córregos.


O olhar da imprensa

Assim como os órgãos públicos e a prefeitura trabalham para o resgate às vítimas e melhorar as moradias, também há a necessidade de informar sobre o que está acontecendo nestes locais, com transmissões em tempo real de todas as mudanças, e nesse contexto, estamos falando da importância do papel da imprensa e dos jornalistas.


“A gente publica , denuncia e mostra, acho que tem que ser assim, tanto no caso de desastre natural, quanto nos problemas de poluição. Essas são tragédias anunciadas por falta de estrutura do país, pela pobreza e pela falta de planejamento.”

O jornalista Rodrigo Bertolotto possui bastante experiência na área, tendo trabalhado no jornal Folha de S. Paulo por dez anos. Atualmente está na equipe do portal UOL, onde atua desde 2003 cobrindo diversos assuntos, incluindo a triste realidade das áreas de risco.


Imagem por Marcos de Paula/Agência Estado

Em 2011, ele fez a cobertura da tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, em que vitimou mais de novecentas pessoas e deixou mais de cem desaparecidos. A catástrofe foi considerada o maior desastre natural do Brasil até então. Em apenas 3 horas de chuva, o volume de água ultrapassou o esperado para todo o mês e causou deslizamentos de terra e alagamentos.


“Eu fiquei 10 dias naquela cobertura e agora, nesse verão de 2022, a história se repetiu e morreram mais de 130 pessoas. A questão não se resolve com o passar do tempo, a coisa continua, porque não depende só da quantidade de chuva. As pessoas seguem construindo em locais perigosos e o governo não faz nada”, diz Rodrigo.


Outro desastre que ficou muito conhecido, foram os deslizamentos que ocorreram em Franco da Rocha e Francisco Morato, na Grande São Paulo, em março deste ano, a Defesa Civil informou o total de 34 mortos, dentre esses 8 crianças, além de 14 feridos. Rodrigo chegou com sua equipe no segundo dia para fazer a cobertura, “ainda tinha muita gente soterrada e pessoas sendo tiradas debaixo da lama. Nós chegamos para fazer uma matéria trazendo a realidade das pessoas que viviam ali”, relata.

Imagem por Reuters

A ocupação de Franco da Rocha foi feita próxima a linha do trem que ia até Jundiaí, o antigo percurso Santos - Jundiaí. Ali era feito o transporte de café e de produtos agrícolas, no entanto, passou a ser usado para o transporte público de toda a região.


Com a ocupação de residências à beira das montanhas, com subidas e descidas, há muita exposição ao risco, tanto para quem está no topo, quanto para quem está no declive, ou na parte mais inferior. ‘Quem vive em cima vai escorregando, quem está no declive do elevado também e quem está na parte mais baixa também acaba sofrendo’, destaca Rodrigo.


Esse tipo de reportagem é um trabalho que envolve tempo, pesquisa e conversa com diversas pessoas. Ele conta que, num primeiro momento, fez um acompanhamento das estatísticas, com o número de mortos e desaparecidos, além de dados do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil.


Cobrir tragédias dessa grandeza requer que o repórter tenha de se concentrar ao máximo e manter o sangue frio, ainda que esteja no meio de tanta dor e sofrimento. "As pessoas querem contar o sofrimento que passaram, por que foi algo muito intenso, estar na sua casa e de repente vir um monte de terra, e te sufocar. Você tem que lutar pela sobrevivência", relembra Bertolotto


No caso de Nova Friburgo, uma das coisas que mais marcou o profissional foi o cemitério da cidade, que era bem pequeno e em área montanhosa. Então, a cada 5 minutos tinha um cortejo passando, subindo em direção ao cemitério, levando o corpo, uma cena que era impressionante. “Me lembro que o ginásio estava cheio de caixões, eu cheguei a ver até explosões por conta do material em decomposição, e claro, o cheiro também era impressionante, te deixa marcado,” completa.


Segundo Rodrigo, são nesses relatos que vem os maiores detalhes para essas matérias e não apenas as estatísticas. Seja uma descrição de uma pessoa que salvou alguém, ou na história de um sobrevivente que encontrou um espaço entre as vigas e os escombros para sair dali com vida.


Enquanto Rodrigo segue contando histórias, o corpo de bombeiros salvando vidas, Jacqueline e Leonice já se preparam para as possíveis chuvas que podem amenizar o calor ou como foi em março deste ano, devastar suas casas e pertences.


“Nós fizemos as muretinhas, pra quando a chuva vier, já estarmos preparados. Estamos fazendo esse investimento pra água não invadir as nossas casas como teve na última chuva em que perdemos tudo”, desabafa Leonice, mostrando as marcas de barro deixadas pela água vinda da avenida.


“Infelizmente a única coisa que podemos fazer é nos preparar para as próximas chuvas, eu pretendo pegar minha mochila com alguns pertences e ir para a casa do meu irmão, não posso perder tudo de novo”, finaliza Jacqueline.



Conheça quem participou dessa reportagem:






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